O REGRESSO do DR. BARROSO num cavalo grego. Mas não o de Tróia
Durão
Barroso regressou ontem à política portuguesa, aproveitando o lançamento do
livro de Miguel Relvas e Paulo Júlio. Aproveitou para branquear a imagem da
troika e a visão contabilística dos problemas europeus que predominam na
Eurolândia e no FMI. Elogiou os homens dos aparelhos partidários, dando como
exemplo Miguel Relvas. E finalmente pôs nos píncaros o primeiro-ministro: sem
Passos Coelho, Portugal teria sido outra Grécia.
Não se pode dizer que Durão Barroso seja um
mestre do disfarce. O que de repente descobriu é que esta crise grega não só
pode levar a coligação PSD/CDS a ganhar as próximas eleições legislativas, como
sobretudo ele próprio passou a ter de novo possibilidades de ser o candidato da
maioria à Presidência da República. Para isso, precisa em primeiro lugar que
Passos Coelho leve o PSD a apoiá-lo na corrida a Belém. E, se tal acontecer,
precisa de alguém que domine o aparelho do PSD. E essa pessoa é Miguel Relvas.
Daí a sua presença no lançamento do livro do ex-ministro, daí o rasgado elogio
a Relvas.
O que isto prova é, em primeiro lugar, que
Durão Barroso pensa que os portugueses não têm memória. E em segundo que, tendo
alguma, conseguem ver o que se passou nos últimos quatro anos segundo a sua
ótica.
Barroso ou vai para Belém ou ficará por aí
a dar aulas e conferências, por cá e lá fora, não ascendendo a mais nenhum
cargo político de relevo. O mundo é muito injusto
Será bom que Barroso seja o eleito de
Passos para Belém. Isso permitirá fazer um balanço dos longos anos que Barroso
esteve à frente da Comissão Europeia. Permitirá, por exemplo, constatar que foi
com Durão Barroso que a Comissão Europeia perdeu o seu papel de fiel da balança
na construção da União Europeia e entrou num claro declínio no quadro das suas
instituições. Foi com ele que Bruxelas deixou de ser quem dava a mão aos países
mais pequenos. Foi com ele que a Comissão Europeia passou a ser totalmente
subserviente das teses alemãs. Foi com ele que Bruxelas assistiu impávida ao eclodir
da crise grega, demorando muitíssimo tempo a reagir – e só o fazendo depois de
Berlim ter decidido atuar. Foi com ele que se anunciou que a crise de 2008 não
contaminaria a Europa. Quando isso aconteceu, foi com ele que se decidiu que os
Estados deveriam meter dinheiro em força na economia, em Parcerias
Público-Privadas e em investimentos de proximidade (recuperação de escolas,
aposta nas energias renováveis). Foi com ele que, dois anos depois, as
orientações de Bruxelas mudaram radicalmente, passando a redução do défice a
ser o alfa e omega da cartilha de Bruxelas. E quando vários países disseram que
tinham feito o que o presidente tinha dito e escrito, Durão Barroso veio
candidamente dizer que meter dinheiro na economia era só para quem podia – o que é extraordinário,
porque quem podia era quem menos precisava ou não precisava de todo… Foi Durão
Barroso que não apoiou a criação de uma agência europeia de rating, para
combater a ditadura das quatro grandes, que agravaram em muito a crise
europeia, embora durante longos meses tivesse estado em cima da mesa um projeto
da Roland Berger. Foi Durão Barroso (por decisão de Angela Merkel, claro) que
deu o seu aval ao famoso PEC IV de José Sócrates – e ficou irritado quando Passos Coelho chumbou o
documento na Assembleia da República e lançou o país em eleições,
de onde saiu um novo ciclo político.
Muito mais factos haverá seguramente para
recordar se Barroso vier a candidatar-se a Belém – o que se prepara para fazer, aliás,
porque apesar de ter brilhado tanto à frente da Comissão Europeia, ninguém o
convidou para mais nenhum cargo internacional.
Por
isso, Barroso ou vai para Belém ou ficará por aí a dar aulas e conferências,
por cá e lá fora, não ascendendo a mais nenhum cargo político de relevo. O
mundo é muito injusto. Por isso, Barroso reentra na corrida a Belém a cavalo da
Grécia. Mas sem a subtileza, o engenho e a arte do cavalo de Tróia.
Fonte: Estátua de Sal
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